Nei Duclós
A memória inventa outra pessoa.
Sempre fui estrangeiro
do que penso ser minha biografia.
Corri paralelo ao que me percebiam.
Hoje me descubro outsider entre excluídos.
Vivi outra vida, entre quatro paredes
as dimensões do tempo posto em enigma
fui para a rua descosturando o rumo
e desaguei no meu começo, bairro antigo
Nenhuma capital apagou o sopro da origem
É no interior que desafogo, eterno filho
Cresci em vão na solidão dos campos de trigo
banhei-me em rio do mito, jamais repetido
sou barco à deriva preso na ribanceira
pássaros sem nome ciscam restos de peixe
no chão de madeira tosca, enredo de linhas
Vieram me buscar porque a lua estava alta
e eu era apenas os olhos que hoje te miram
RETORNO - Imagem: eu na beira do rio Uruguai, em Uruguaiana, foto de Anderson Petroceli.
