4 de abril de 2014

PASSAGEIRA



Nei Duclós

Só tenho o que consentes
essas paredes de tinta velha
canteiros fora do terreno
telhados com musgo denso
propriedades sem dono
gado que herdei já moço
e perdi no jogo de dados

Possuo só tuas confidências
segredos por sobre o ombro
cintura que afrouxa o passo
cor ainda quente, valsa doce
advérbios soltos no pátio
e um rio que passa rente
à tua memória sem tempo

Não te pertences, aleatória
a orbitar meu sonho sereno
passageira sem bilhete
a invocar o cobrador do bonde
puxas da bolsa tua solidão
palavras que me atingem
e se confundem com a noite


RETORNO - Imagem desta edição: obra de Edward Hopper