14 de julho de 2014

O POVO INDECIFRÁVEL




Nei Duclós



Ganhar Copa do Mundo em casa é redundância
Deixamos isso para argentinos, ingleses, franceses.
Em casa nós entregamos o jogo. Tomamos dois, três,sete.
Nossas conquistas são em territórios hostis
Em monarquias europeias, em países remotos
somos aplaudidos por plateias adventícias
enquanto aqui vaiamos, porque temos direito

Somos diferentes. Queríamos ser iguais, como todos
fazer gol com mão, apitar a favor na bola fora
tripudiar sobre adversários, escarnecer, gargalhar
mas somos cordiais, talvez porque temos em excesso
é muita terra, muita beleza, muita gente, muita grana
tudo vai para o ralo como se não tivesse amanhã
amargamos a ressaca de sermos assim, generosos
por natureza e submissos aos roubos e carnificinas

Nada importa para nós, levar goleadas, perder craques
ser dilapidados em tudo, eleger bandidos e ladrões
Somos indiferentes ao que dizem ser humano
fazemos parte de outra estirpe, não dos vitoriosos
ou dos fracassados, estamos à parte dessas divisões
Somos uma espécie indecifrável, predestinada
e pronta para desaparecer como os antigos gigantes
Somos de uma raça única, a dos pentacampeões


RETORNO - Imagem desta edição: tirei do blog http://esportes.r7.com/blogs/cosme-rimoli/

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