5 de agosto de 2014

DIZER A PALAVRA



Nei Duclós

Dizer a palavra silêncio já é fazer ruído

Gosto quando me enxergas e caprichas na letra em teu caderno.

Perco a noção quando escreves. Leio além do poema, tua superfície inventando o fundo.

Me dás bom dia como quem se entrega. Mas eu é que me perco em tua gentileza.

Encobres o rosto para que eu te veja

É bom lembrar que idade não é virtude.

Só tu me resgatas do fundo. Com teu canto de doçura.

Árvores com pássaros em assembleias são a ONU do crepúsculo.

Perdi a vontade de tudo. Me recolhi ao poema e palmilhei cada letra como num passeio. No fim, era apenas um solfejo de pássaros ariscos


ESTROFES ESPARSAS

És perfeita porque o amor não tem defeito.
Te modelei soprando teu rosto.
Sou o anjo que sussurra para sempre.
Flor do gênero, supremo encanto.

Todo encontro lembro que te amo
dentro de ti como suspiro fundo
de mel puro . Sou teu relâmpago

Pássaros avisam o fim da madrugada.
O Sol a Leste varre as estrelas.
A noite se apaga sobre tua insônia
de corpo exausto. Há amor, de tocaia.


DRs


- Não tenho mais o que dizer, disse ela.
- Diga que me ama, disse ele.


- Venha dormir, disse a Sereia.
- Netuno, meu pai, não descansa, disse Jack o Marujo. O mar fica aos pés do farol.

- Para onde foram todos? perguntou a Sereia.
- Desistiram, disse Jack o Marujo.

- De mim só queres a poesia, disse ele. Sou poeta objeto.
- E vê se não exagera na rima, disse ela. Dá nos nervos.


RETORNO - Imagem desta edição: foto de Tomás May.

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