7 de março de 2015

PROVOCAÇÃO



Nei Duclós

Perdi a razão. A encontrei bebendo.

A Lua é um aviso de permanência. E de beleza gerada pela eternidade.

Não aceitas provocação, muralha de perdição.

Só a memória abriga este amor perdido.

Elas pousam no poema e depois se mandam. Levam o pólen que estava faltando. Abandonam a fábrica movida a vento.

Busco nos arquivos a palavra que usei e não está mais comigo. Não acho, pois te dei, musa distraída.

Nunca celebras o sentimento. Não precisa. Já és feita de puro amor.

Você não me deixa partir, disse ela. Faz sempre alguma coisa adorável para eu ficar.

 Teu amor é uma joia que pretendo guardar, disse ele. Numa caixa sem valor, meu coração, que te pertence, mesmo que eu custe a acreditar.

INTENSOS

Somos intensos
no imaginário tecido por dentro
e que assoma em rostos
que se complementam


DESMANCHE

Desmancho e ninguém se dá conta.
A não ser você
a mil metros de distância.


MIRAGEM

Pisavas no céu
com teus barcos azuis.
Mas já não estavas lá,
apenas teu olhar.

ZUMBIDOS

Amor se acha quando se esconde.
Quando ninguém procura.
Quando se sabe que o foco é outro
e ficar em cima só torna piegas
o que por natureza transcende.

Amor é inseto invisível.
Só a flor conhece seus caminhos.
Corola, pétala, espinhos
zumbidos que não se escutam
a não ser em teu espírito

LUVA

Quando amei, devia ter amado
de verdade, e não o que sonhei
imaginei sentir o que de fato
era folha ao vento e chuvarada

Quando te deixei devia ter voltado
no mesmo instante do duro adeus
pensei que era o destino ir embora
e era só a solidão, que cultivei

Devia aprender com tuas curvas
teus olhos de seda, tua pele fria
tua boca de jasmim, única lua

Pensei ser eterno, como os deuses
mas sempre fui mortal, como granito
minha armadura perde para tua luva



RETORNO - Imagem desta edição: obra de John William Waterhouse

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