3 de julho de 2017

O CINEMA EM AMÉLIE POULAIN



Nei Duclós 
 
É o cinema que costura a memória e permite que possamos intervir nela em favor das ações do presente. A partir de uma perda - a da mãe, na infância - Amélie Poulain reúne pistas deixadas por parentes, amigos e desconhecidos e para isso usa imagens do cinema, da publicidade, das revistas, das vitrines, dos jardins, reconstruindo a história deixada pelos cacos espalhados da sociedade do espetáculo e de sua manifestação mais intensa, a Sétima Arte.

Assim se aproxima das pessoas, interferindo nos seus hábitos, tirando-as da contemplação do passado e trazendo-as para dentro do drama que se desenrola em todos os lugares, do metrô ao banheiro de casa. Tudo feito com impiedoso lirismo, radical em sua solidariedade, buscando o sentido que nos escapa na percepção partida em mil pedaços. .

Todo filme é sobre cinema. Amélie (2001) é um banquete dessa máxima. Jean-Pierre Jeunet escreve e dirige e Audrey Tautou interpreta a garota parisiense que interage de maneira surpreendente e bizarra com seus contemporâneos de todas as idades. Uma saga fundada nos detalhes (a mão prazerosa nos grãos), na narração em off (o romancista oculto), na humanidade que se expressa e se revela por caricaturas, numa espécie de literatura visual dos filmes antigos e dos comics, mas num tom clássico de contadores de histórias.

Amélie repõe Paris no centro do imaginário do nosso tempo.


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