25 de setembro de 2017

FELINO



Nei Duclós

A única solidão que vale a pena
é o poema
Urdido como confissão para as paredes
Guardado embaixo do travesseiro
Até os navios voltarem de uma guerra

É feito para não ser repartido
Idêntico ao amor que ninguém assume
Segredo em corações ocultos

Por isso quando vier à tona
Como ilha de vulcão extinto
Não tente encorajá-lo com alpiste
Achando que é pássaro sem ninho

Ele é fera, tem catinga de felino
Foi treinado para rugir no abismo
Exibe dentes afiados pelo exílio

Mas se for lido talvez se amanse
Como os gatos que gostam de ser livres


Nenhum comentário:

Postar um comentário