14 de dezembro de 2017

REPÚBLICA COM E SEM REI



Nei Duclós

O historiador britânico marxista Christopher Hill nos ensina que o termo república não significa apenas o sistema republicano, mas, como na sua origem se refere aos negócios públicos, também serve para a monarquia. Se levarmos em conta a monarquia inglesa depois das décadas revolucionárias de 1640 a 1680, quando os ingleses intauraram a monarquia parlamentarista depois de defenestrar e enforcar um rei e recuar para uma restauração da coroa, podemos entender melhor esse conceito que, como tudo em História, é complicado.

Terminei de ler O Mundo de Ponta Cabeça - Idéias radicais durante a Revolução Inglesa de 1640 (Cia das Letras, 1987, trad. de Renato Janine Ribeiro), que reúne revelações importantes sobre as seitas que medraram na insurgência contra todas as igrejas, católica, anglicana e presbiteriana, contra os fidalgos, os dízimos, os proprietários de terras, os burocratas, os letrados etc. numa manifestação popular das profissões mais simples, os que pegavam a mão na massa e se tornaram, com a desestabilização social provocado pela guerra, em figuras itinerantes a pregar blasfêmias contras as Escrituras, Cristo, a nobreza, o clero etc.

As seitas era inúmeras: os diggers, que cavavam as terras devolutas para lavrar sem a licença do governo, os levelers, que queriam nivelar todos, os ranters, que blasfemavam radicalmente, além dos quackers, que acabaram recuando e se tornando mais prudentes e longevos. Alguns faziam cultos em cervejarias e praticavam o amor livre e deixavam os loucos anos 20 ou dos anos 60 no século 20 no chinelo. É forte a influência desse movimento periférico que não foi devidamente estudado - até Hill - pela historiografia e que deixou marcas na política, na filosofia, na imprensa, nas religiões, na literatura, atingindo diretamente as obras de grandes autores como William Blake e Milton.




Bastidores de guerras são sempre importantes para entendermos melhor os eventos históricos, fora do cânone em que se colocam os fatos para que esteja apropriados aos aparelhamentos políticos contemporâneos. A monarquia constitucional foi adotada por Dom Pedro I, que levou essa ideia a partir do Brasil para as guerras contra seu irmão Miguel em Portugal, onde virou Dom Pedro IV.

Dom Pedro se aconselhava com um general holandês que fora braço direito de Napoleão e estava no exílio no Rio desde a derrotada do Imperador. Conto isso no meu livro Tudo o que pisa deixa rastro, de 2015, uma ficção com bibliografia, fruto de 20 anos de pesquisa e que avança para outras guerras brasileiras, desde a da Independência, até a de 1924, a de 1930 etc.É bom ler sobre esses eventos e ampliar nossa percepção do que pegou no passado e continua agindo sobre nós.

Nei Duclós

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